08/12/2009

Alzheimer

O mal de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa extremamente conhecida.

Esta afecta principalmente a área do hipocampo (responsável pela memória e a visão espacial, entre outros), no córtex cerebral, conduzindo à morte de neurónios e à diminuição das sinapses nervosas.

 

Esta doença manisfesta-se geralmente a partir dos 60 anos. À medida que a idade vai avançando, a probabilidade de ter a doença aumenta:

  60-64 anos - 1% de indivíduos afectados

  65-85 anos - 4-10% de indivíduos afectados

  a partir dos 85 anos - 20-40% de indivíduos afectados

Em Portugal há cerca de 60 mil caos de Alzheimer.

 

Alguns factores de risco desta doença são a idade, o genótipo, o histórico familiar, traumatismos cranianos anteriores e síndrome de Down.

 

Os sintomas de Alzheimer são:

·  Perda de memória

·  Desorientação

·  Ansiedade e desconfiança

·  Alteração da personalidade

·  Dificuldade em realizar actividades triviais

·  Alucinações

·  Perda de peso

·  Incontinência

·  Confusão a reconhecer familiares e amigos

·  Descoordenação da fala e dos movimentos

·  Distúrbios de sono

·  Dependência progressiva de familiares e amigos

·  Perda de iniciativa

 

Esta doença pode ser dividida em três períodos:

Ø  Período assintomático - entre o início e a manifestação dos primeiros sintomas

Ø  Período pré-demencial - entre a manifestação dos primeiros sintomas e a perda de autonomia

Ø  Período demencial - entre a perda de autonomia e a morte

 

Patologia da doença

 

A excessiva produção da proteína amilóide ou a deficiente metabolização(eliminação) desta vão gerar a acumulação da proteína em depósitos denominados placas amilóides. Estas bloqueiam e matam neurónios. Nos pacientes de DA as placas amilóides desenvolvem-se principalmente nas amígdalas e no hipocampo (ambos localizados nos lobos temporais).

 

Nos pacientes de Alzheimer é também possível observar emaranhados neurofibrilares no hipocampo. Estes consistem no aparecimento de uma proteína densa no citosqueleto dos neurónios. A proteína referida é a proteína tau, que se encontra hiperfosforilada nos casos de MA, por oposição a indivíduos que não sofram desta condição.

 

Neurotransmissores envolvidos:

 A doença de Alzheimer tem como consequência desiquílibrios na concentração e funcionalidade de certos neurotransmissores como a acetilcolina, serotonina, norepinefrina, dopamina e glutamato.

 

A acetilcolina está envolvida em processos de aprendizagem e memória. O défice desta tem como consequência confusão mental e perda de raciocínio

 

Tanto a serotonina, como a norepinefrina e a dopamina são responsáveis por sensações como o prazer e a motivação. Em adição, a dopamina é também precursora da adrenalina e noradrenalina, estando envolvida em processo de movimentação e cognição. A serotonina é também responsável pelo controla hormonal, influenciando o ritmo cardíaco, o sono, o apetite, e os transtornos de humor, entre outros.

A baixa concentração e funcionalidade destes neurotransmissores podem causar depressão.

 

O glutamato é um neurotransmissor que, quando presente em excesso, pode causar reacções de excitoxicidade, que tem como consequência lesões de tecidos e neurónios. No caso dos pacientes de Alzheimer, os transportadores (responsáveis pela "limpeza" do glutamato da fenda sináptica) não funcionam de forma correcta, causando um acumulamento do glutamato. Este vai se ligar aos receptores do neurónio pós sináptico continuamente, sendo o neurónio sucessivamente estimulado. Estes incessantes estímulos causam a entrada excessiva de iões cálcio que, em último caso, pode causar a apoptose(morte celular).

 

 

Diagnóstico:

O diagnóstico tem duas fases: a primeira consiste em determinar se o paciente sofre ou não de demência; caso sofra, é necessário verificar se esta é provocada pela doença de Alzheimer.

 

Na primeira fase são tomados em conta sintomas como:

·  Perda de memória

·  Afasia (perturbações na interpretação e produção de discurso oral)

·  Apraxia (descoordenação motora)

·  Agnosia (perturbações na interpretação de imagens)

·  Distúrbios em funções intelectuais superiores como o raciocínio e o cálculo

 

Para determinar a existência, ou não, de demência há, também, o recurso a testes:

Ø  Teste do relógio - é pedido ao paciente que desenhe um relógio e marque uma determinada hora neste com ponteiros.

Ø  Teste da memória episódica - é lida uma lista de palavras ao paciente e é pedido a este que as repita; após 5 minutos de uma actividade distractiva, é de novo pedido ao paciente que repita a lista de palavras.

Ø  MMSE(mini exame do estado mental) - consiste num conjunto de perguntas cujas respostas são ditas oralmente, escritas ou desenhadas.

 

 

 Na segunda fase são feitos exames de imagem como TAC (tomografia axial computorizada), RMN (ressonância magnética nuclear), PET (tomografia de emissão de positrões) e SPECT (tomografia de emissão de fotão único).

 Nesta fase são também feitos exames genéticos para determinar a existência de possíveis mutações em certos genes:

Ø  Gene APP, situado no cromossoma 21 - codifica a síntese da proteína amilóide

Ø  Gene PS-1, situado no cromossoma 14

Ø  Gene PS-2, situado no cromossoma 1

Ø  Gene APOE, situado no cromossoma 19 - principal factor de risco genético de vir a ter Alzheimer

                                                                            - tem 5 alelos, estando uma deles (APOE4) relacionado com o aparecimento da doença, e presumindo se que outro (APOE2) confira protecção relativamente a esta.

 

 

Tratamento:

 

Pode ser direccionado para a prevenção/estabilização da progressão da doença, ou para tratamento dos sintomas primários (cognitivos) e secundários (psiquiátricos)

 

Não existe nenhuma tratamento com eficácia aprovada para a diminuição da velocidade de progressão da doença. No entanto, foram feitos estudos neste sentido, focando:

Ø  Antioxidantes - "bloqueiam" os radicais livres, que podem afectar o bom funcionamento da membrana celular dos neurónios

Ø  Factores neurotróficos - promovem o desenvolvimento dos neurónios

Ø  Antagonistas de receptores de glutamato

Ø  Pró-colinergénico - tornam os receptores colinergénicos (de acetilcolina) mais sensíveis, potencializando a acção da acetilcolina

Ø  Anti-inflamatórios - pensa-se que pode diminuir o risco de aparecimento da doença

Ø  Terapia hormonal (estrogénio) - pensa-se que pode possibilitar a recuperação de algumas capacidades cognitivas, quando administrado a mulheres com Alzheimer, no período pós-menopausa

Ø  Diminuição da produção e deposição da proteína amilóide

 

 

Para o tratamento de sintomas cognitivos são utilizados:

Ø  Inibidores de colinesterase (enzima que provoca a hidrólise da acetilcolina e, consequentemente, provoca o aumento da concentração de acetilcolina) - tem como consequência uma melhoria inicial dos sintomas; a suspensão do tratamento pode provocar um retrocesso.

Ø  Antagonistas de receptores glutamatérgicos (inibem a ligação dos glutamato aos receptores de membrana) - podem causar insuficiência renal.

Ø  Estimulação cognitiva - treino da memória, do raciocínio, etc...

 

 

Para o tratamento de sintomas comportamentais são utilizados:

Ø  Depressão

·  Anti-depressivos - actuam no sistema límbico, aumentando a concentração de serotonina, norepinefrina e dopamina, promovendo uma sensação de bem-estar

·  Inibidores colinesterase

·  Tratamento não farmacológico - terapia interpessoal, terapia cognitivo-comportamental, etc...

 

Ø  Psicose

·  Anti-psicóticos

·  Inibidores de colinesterase

·  Tratamento não farmatológico - distracção, conforto, segurança, etc...

 

Ø  Agitação e Agressividade

·  Anti-psicóticos

·  Inibidores de colinesterase

·  Estabilizadores de membrana - inibem os canais iónicos, diminuindo a entrada e saída de iões, diminuindo os potenciais de acção

·  Buspirona (ansiolítico) - aumenta a sensibilidade dos receptores de membrana à serotonina, promovendo uma sensação de bem-estar

·  Bendozepina (ansiolítico) - aumenta a sensibilidade dos receptores de membrana ao GABA (neurónio inibitório), aumentando o número de sinapses inibitórias

·  Tratamento não farmacológico - exercício, distracção, musicoterapia, etc..

 

Esta doença tem, de facto, um carácter fatal e irreversível, visto que não são conhecidas as causas, não há um método de diagnóstico certo, não é possível efectuar previsões correctas e não existe cura ou vacinação preventiva. No entanto, é possível lentificar a progressão dos sintomas e torná-los um pouco mais manejáveis.

 

            "Há doenças incuráveis mas não há doentes intratáveis"